Se você me perguntar quais filmes brasileiros eu mais gosto rapidamente vou te responder: O Contador de Histórias e O Palhaço. Gente, quando eu assisti esses filmes eu fiquei tão feliz deles terem sido realizados, terem superados todas as dificuldades que eles devem ter encontrado pelo caminho – que com certeza foram muitas, porque fazer cinema no Brasil é punk – eu fui muito, muito tocada mesmo com diversos detalhes deles, então, hoje eu quero falar um pouco sobre “Contador”.
Pra quem não assistiu, a sinopse do filme é essa: “Anos 70. Aos 6 anos Roberto Carlos Ramos (Marco Ribeiro) foi escolhido por sua mãe (Jú Colombo) para ser interno em uma instituição oficial que, segundo apregoava a propaganda, visava a formação de crianças em médicos, advogados e engenheiros. Entretanto a realidade era bem diferente, o que fez com que Roberto aprendesse as regras de sobrevivência no local. Pouco depois de completar 7 anos ele é transferido, passando a conviver com crianças até 14 anos. Aos 13 anos, ainda analfabeto, Roberto tem contato com as drogas e já acumula mais de 100 tentativas de fuga. Considerado irrecuperável por muitos, Roberto recebe a visita da psicóloga francesa Margherit Duvas (Maria de Medeiros). Tratando-o com respeito, ela inicia o processo de recuperação e aprendizagem de Roberto”.
Como a sinopse bem aponta, se trata de um drama que causa uma identificação com todos ou pelo menos a maioria dos brasileiros logo de início. Temos uma família que sobrevive literalmente, vivem de forma muito precária, como é comum em uma família muito simples: moram num casebre, a mãe super guerreira que cuida sozinha dos muitos filhos e mesmo sem saber de qual maneira sonha um futuro brilhante para eles. E é com a intenção de dar um futuro melhor para o seu caçula que ela entrega Roberto Carlos aos cuidados da FEBEM. Para nós que estamos no futuro em relação ao tempo que se passa o filme é absurdo pensar como alguém acreditou numa instituição como essa, mas se olharmos na perspectiva de uma mãe desesperada em de alguma forma mudar a história de pelo menos parte da sua família podemos encontrar algum sentido. Lembre-se que nos anos 70 a TV ainda era algo bastante mágico para muitas pessoas, na região como a que Roberto Carlos viveu era um evento assistir um programa, logo, é bem possível que fosse abraçado como verdade o anúncio “conto de fadas” apresentado pela FEBEM na televisão, visto pela mãe de Roberto.
Já interno o menino e todos os outros que vivem lá experimentam o que há de mais cruel para uma criança: a solidão, falta de carinho e referência ao seu redor. É importante dizer que a história se trata de um filme baseado em fatos reais, o que faz com que sofremos ainda mais diante da tela, pois num passado não muito distante aquilo aconteceu e infelizmente, nós sabemos muito bem que continua acontecendo de forma muito semelhante. Margherit, psicóloga francesa que visita o local se interessa pela história de Roberto Carlos e desde que o garoto entrou para essa unidade é a primeira vez que vemos alguém o olhando como um ser humano, em todos os outros momentos temos adultos autoritários se dirigindo a seres inferiores irrecuperáveis.
Uma série de eventos dramáticos e cômicos aparecem, a cada vez que o menino narra para a francesa suas memórias fantasiosas suspendemos aquela realidade tão dura e rimos da inocência, criatividade e esperteza de Roberto. Esses alívios cômicos do filme formam muito necessários ao meu ver, são eles os momentos de leveza que precisamos diversas vezes para prosseguir nessa caminhada de vida tão pesada.
Impossível não destacar a direção de arte impecável do filme. A Belo Horizonte (uma das locações do filme) dos anos 2000 (o filme é de 2009) nem de longe aparece no filme, vemos os anos 70 em cada detalhe. Arquitetura, mobília, objetos de cena, figurino… Tudo, tudo muito bem produzido.
Temos três fases do protagonista, duas delas eles são crianças que por diversas vezes me fizeram pensar em como a preparadora de elenco conseguiu “tirar” daqueles meninos o personagem de forma tão delicada e verdadeira. E foi por ter essas e outras questões que surgem quando eu (re)assisto esse filme que eu procurei as mulheres que atuaram nele de alguma forma (bastidores ou como atrizes) para conversar sobre sua produção, pré produção e pós, a primeira a me retornar foi a Jú Colombo que vive a mãe de Roberto, ela foi de uma generosidade enorme me contando o filme a partir da visão de seu personagem, por ela ter compartilhado comigo tantas coisas vou fazer um post exclusivo para a entrevista que ela me concedeu (não me matem por fazer vocês esperarem, hehehe), mas vamos combinar uma coisa, se você não assistiu ainda O Contador de Histórias, assista, se já viu, veja de novo e daí quando eu liberar tudo que a Jú compartilhou vai está tudo tão fesquinho na sua mente que vai ser ainda mais emocionante saber os detalhes que ela me contou.
Conta pra mim o que mais te tocou nesse filme… Gosto tanto dele que poderia escrever por horas a respeito dele.
BAIXE NOSSO E-BOOK “CONSTRUINDO UM TRABALHO COM AGENDA FLEXÍVEL” CLIQUE AQUI!
3 comentários em “O Contador de Histórias”
Esse filme é lindo mesmo e emocionante.Daqueles que nos prende no sofá
Isso, mami!! 🙂
muito bom o seu artigo