Não é sinopse, mas um mero ensaio de uma mãe.
Que tal então: uma homenagem a Dona Jumbo!
Cinema vazio. Em plena segunda-feira. Um casal. Eu e meu marido (minha filha estava na escola) e 3 pessoas. Uma vovó aparentemente muito simpática acompanhada dos seus dois netinhos. Um menino que se emocionava a cada espirro do pequeno e adorável Dumbo e uma menininha concentrada.
Ali estávamos à espera desta remake de 1941. Tim Burton obviamente não se prenderia ao roteiro, mas estaria atento ao essencial: registrar as emoções do fofíssimo Dumbo. Sim, eu acreditava inocentemente e exatamente nisso. Por toda a trajetória de Burton, é de se esperar um Dumbo mais sombrio e ao mesmo tempo doce. Burton seria sim o autor perfeito para refilmagem do elefante desajustado por suas orelhas enormes e que causava estranheza e fofura por onde passava. Imaginava também poucos diálogos e um visual incrível. E sim, as cenas estavam perfeitas. Luz maravilhosa! Movimento de câmera. Trilha! A cena do trem, dos desfiles nos circos, do voo. Sim, vale a diversão. Cenas de respiro, contemplação.
Não tenho afeição alguma em tecer críticas. Sou dessas que gostam mesmo é de elogiar. É com grande esforço que digo, as histórias dos personagens paralelos ganharam muita força. Tudo bem com a ausência dos diálogos entre os animais; não me causam espanto. Mas as emoções do elefante deveriam estar ali no filme. O que infelizmente não ocorreu.
Sobre adaptações, dificilmente busco assistir a um modelo que siga a risca o anterior. Acho fantástico reinventar, adaptar, transformar. Mas esquecer a essência de Dumbo foi um susto para mim. A narrativa toda gira em torno do reencontro mãe e filho como em 1941, mas não registra o lamento do pequeno orelhudo fofíssimo. A linguagem ausente que me refiro é de um conjunto de cenas em primeiro plano das expressões do pequeno voador. Burton, câmera nos olhos azuis do elefante mais lindo que você já programou. Burton? Burton? Que pena!
Eu choro muito fácil. Não preciso de muito não. Não estou pedindo para o autor me lembrar daquela época em que mãe e filha era uma coisa só. Mas em resumo, não chorei. Guardados os devidos exageros, o clássico Dumbo promove catarse em muita gente. Não é de se estranhar a expectativa de todos por este remake sendo sim tão emocionante quanto o primeiro.
Um ponto forte e quase psicanalítico do atual. Uma elaboração legal para o amadurecimento do pequeno Dumbo. Gostei da inventividade de Burton na cena da pena e da chave sendo lançadas ao fogo. Enriqueceu a história. A rima narrativa entre as crianças orfãs e o elefante não era exatamente necessária ao filme, mas ok, compreensivo. Entretanto, o tempo passava e onde estava o registro das expressões do elefante voador? Um filme que clamava por câmera, luz, ação principal nele, no Dumbo. E insisto isso você não vai ver.
Mesmo assim, incentivo você a ver o remake e quem sabe sair dali com impressões totalmente diferentes das minhas. É por aí mesmo, a sua perceção, a minha e seguimos nas inúmeras perspectivas. Vale sim a diversão.
Quanto à classificação indicativa, eu como mãe de uma pequena de 3 anos, não vi problema algum e restrição alguma. Me parece que a idade mínima adotada nos cinemas brasileiros é classificação 10 anos. Penso que poderia ser livre.
Agora uma pergunta que deveria te assombrar: por qual motivo estou discorrendo sobre Dumbo neste canal? Temos agora um canal de indicações cinematográficas? Você sabe que não é uma má ideia. Mas o ponto aqui que me trouxe à cena veio de uma perspectiva mais maternal, você sabe que este filme me fez pensar um pouco sobre o nosso universo?
Engraçado dizer, o conta pra elas me parece quase um Dumbo ao avesso. Só que neste caso, é o movimento da mãe. Sim, sendo a mãe este ser ativo que busca intensamente por mais tempo de qualidade com o filho. Uma iniciativa nossa em meio às chamas de um mercado ainda pouco sensível às nossas causas. É sim um movimento ainda vanguardista o de preservar este vínculo mãe – filho por mais tempo e com mais qualidade.
Com aquelas orelhas e todo pintado de palhacinho sendo hasteado até o alto e as paredes em chamas, já me senti assim diante da pergunta “e agora mãe, decida-se: seu filho ou seu trabalho.” Você pensa sobre isso? Comenta com a gente! Porque Dumbo também fala disso, pelo menos para nós mães. Dona Jumbo me entenderia. E não me furto ao olhar de que tudo parece se tratar de um ensaio sobre as nossas vidas também: nascem, crescem e deixamos ir. Bata asas, meu filho. Bata asas, minha filha. Mas volte para nos visitar.
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