Sentei com minha Bíblia, pronta para um momento de paz. “Pronta” talvez seja exagero, porque a essa altura da vida, qualquer mãe sabe que devocional com crianças em casa é mais um ato de resistência do que um momento contemplativo. Mas ali estava eu, tentando.
Mal abri a Bíblia, e a guerra começou.
O filho que está desfraldando gritou do banheiro: “Mamãe, cocô!”. O mais velho decidiu que era a hora perfeita para treinar na escaleta a música que ele está fazendo com os amigos – e poucas coisas na vida testam tanto a paciência quanto um instrumento de sopro nas mãos de uma criança entusiasmada. O outro filho chorava ao meu lado porque queria brincar e não ler o livro. Três batalhas simultâneas.

E eu só queria ler Tiago.
“De onde vêm as guerras e pelejas entre vós?” (Tg 4:1).
Sorri com ironia. Tiago falava de disputas na igreja, mas poderia muito bem estar descrevendo minha casa às sete da manhã. A verdade é que a guerra nem sempre está lá fora. Às vezes, ela começa dentro de mim. Eu queria meu momento com Deus. Eu queria silêncio. Eu queria ser a mãe que pacifica, que educa com calma, que orienta os filhos ao Senhor—mas, no fundo, o que eu queria mesmo era que todos me deixassem em paz.
“Não vêm dos vossos próprios desejos que guerreiam dentro de vós?” (Tg 4:1)
Ah, Tiago. Acertou em cheio. Porque a maternidade tem esse jeito implacável de expor as guerras internas. Eu poderia culpar o desfralde, a escaleta ou a resistência à leitura, mas a verdadeira luta era minha. Meu orgulho ferido por não conseguir um devocional perfeito. Minha vaidade de querer ser uma mãe que nunca perde a paciência. Minha vontade de controlar um momento que, claramente, estava fora do meu controle.
Mas há graça.
“Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes” (Tg 4:6).
Então me rendi. Deixei a Bíblia de lado por um momento, sem culpa. Fui até o banheiro ajudar o pequeno, ouvi a música improvisada com um elogio sincero e propus uma troca justa ao filho choroso: primeiro o livro, depois a brincadeira. A paz não veio pelo silêncio. Veio pela entrega. Pela consciência de que resistir ao caos nem sempre é sobre fazê-lo desaparecer, mas sobre aprender a atravessá-lo com um coração submisso a Deus.
E talvez seja assim para você também. Talvez sua guerra hoje não seja um desfralde, uma escaleta e um choro por um livro. Talvez sejam demandas do trabalho, expectativas frustradas, relações desgastadas. Talvez, como eu, você só queira um momento de sossego e descubra que a vida insiste em interromper seus planos. Tiago nos convida a nos achegarmos a Deus. A reconhecer que muitas das nossas batalhas não estão lá fora, mas dentro de nós. E que a verdadeira paz não vem quando tudo ao redor se acalma, mas quando nos submetemos Àquele que governa sobre todas as coisas.
Talvez o devocional tenha sido interrompido, mas, no fim, eu vivi Tiago 4 na pele. E, entre desfralde, escaleta e choro, Deus ainda encontrou um jeito de falar comigo.
Com carinho,
Mi
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Mirella Ferraz é cristã, esposa, mãe de quatro e psicóloga perinatal.
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