Que nossas afeições não nos matem nem morram. (Donne)
Desde que pensei no Conta Pra Elas incluí nesse trabalho a Luiza Leite, minha amiga de maternidade (foi a maternidade que nos fez ficar próximas), como ela ainda estava vivendo uma fase “bagunçada” como mãe de primeira viagem não pôde embarcar nessa comigo no inicinho de tudo.
Filha dormindo, mãe trabalhando, por isso, hoje, ela compartilha conosco sua primeira postagem e olha, separe um tempo exclusivo pra essa leitura, pois esse texto foi escrito com tanto carinho que suas singelezas, paixões, medos e alegrias estão estampados nele.
Já se completavam um ano, sete meses e dez dias daquela garotinha que roubou a cena da minha vida. Após alguns dias em treinamento, a minha menina já adormecia às 19:30h, me sobrando um tempo livre. Aliás, “tempo livre” é um termo impensável para quem é mãe e cuida de tudo em casa, absolutamente tudo no que diz respeito a cuidados com a casa e filhos.
É verdade, podemos ficar dias sem lavar os cabelos em função da maternidade. E sim, havia me esmerado nessa maravilha “non sense” e que fazia da minha vida muito mais feliz. Sobrar tempo para ler um livro, ver um filme, jantar com os amigos na minha casa, escrever textos para blogs bacanas como esse, trabalhar. Opa, trabalhar, eu amo trabalhar!
Como queria voltar a produzir algo, voltar a me relacionar com outras pessoas, voltar a me realizar profissionalmente. Podia ser pesquisadora de cinema, uma gerente de comunicação, uma repórter, uma RTVC. Possibilidades, algumas possibilidades já percorridas.
Mas, antes mesmo de engravidar já suspeitava que oito horas seguidas na carteira não atenderiam as minhas novas necessidades. Queria mais. Ter um tempo sadio em casa e dentro do trabalho. Um equilíbrio difícil de acreditar dentro de um ambiente empresarial.
Após seis anos consecutivos trabalhando numa multinacional pude suspeitar que “casa” e trabalho ainda são incompatíveis, principalmente quando se tem filhos bem novinhos. E foi ali, dentro do meu empreendimento com cosméticos que me reencontrei trabalhando e cuidando da minha casa.
No dia a dia, após um dia cheio com a pequena e aprontá-la para dormir, me vejo tão animada para trabalhar indo até a casa das clientes. Produtos excelentes exigem um atendimento excelente.
Ora, e foi no tempo como gerente de comunicação de uma multinacional que recebi muitas aulas de um atendimento excelente, que pude entender e atender com excelência. E é engraçado que naquele tempo nesta empresa que ficava em um shopping, vi uma cena que me marcou.
Não quis olhar por muito tempo, a cena era forte. Um despertador insuportável para nós mulheres. Você vai entender. Eu ainda não havia sido abençoada com a maternidade, mas tive compaixão profunda por aquela moça dentro do banheiro do shopping:
Vestida com o uniforme de trabalho do McDonalds (não importa a empresa, mas esta era a empresa), aquela funcionária levantou a sua blusa e tirou leite. Com um pouco de constrangimento, ordenhou ali mesmo na pia do banheiro. O seu peito estava empedrando. E aquela cena me arrancou pensamentos, vaidades, roupas sociais, aquele meu cabelo tão arrumado e me fez olhar honestamente no espelho. Nua. Estava me imaginando nua de toda aquela pompa profissional, “o que seria daqui para frente”.
Precisava fazer um exame de consciência muito verdadeiro do que queria para mim. Eu tinha estudado muitas horas, trabalhado tanto em minha profissão. No auge de tudo e de tanto para se viver. Aquela mulher me despertou um misto de tristeza e angústia. Não queria aquilo para mim. Aliás, amamentei por demais a minha pequena. E foi uma das maravilhas da maternidade até um ano e seis meses de vida dela.
O desmame também foi um marco importante para uma nova cena em minha vida. A poesia da coincidência: desmame, sonos embalados cedo da noite, tempo livre, mama livre, mãe livre. E a maternidade abraçou-me por completo antes mesmo de engravidar.
Fiz escolhas importantes e uma delas é a de ser mãe em tempo integral nos primeiros meses e anos dela. E foi assim. Pude curtir tudo dessa minha pequena cientista. Sim, porque eles são mesmo cientistas. Tenho registros tão marcantes dos olhares dela. Surpresa por tudo, com todos. Nada de pragmático. O relógio da vida parece que pára mesmo diante desses olhos tão surpresos. O primeiro olhar com o primeiro passo, os olhinhos de descoberta de tudo ao redor, “mamãe, mamãe” (música ouvida aos seis meses).
Mas houve percalços, dores profundas. Já conto. Na ocasião do aperto, o coração só se aquietava quando me lembrava da soberania profunda de quem formou a minha filha. Quando ainda nem balbuciava direito, foi descoberto que ela havia nascido com uma displasia de quadril bem grave.
Foi um longo tratamento, que ainda se estende nas fisioterapias. Está curada, dizia o ortopedista, mas na fala dele outro algo também me chamava atenção: “foi fundamental sua dedicação exclusiva. Na escolinha, acidentalmente a posição da perninha poderia ter sido alterada e prejudicaria o tratamento.” Isso me trazia uma alegria imensa, como uma confirmação de que aquele era o caminho mais certeiro.
E foi assim, novos desafios dentro daqueles primeiros anos planejados para me dedicar em tempo integral para ela. Vi um valor tão profundo na parceria com meu marido. Ele com o sustento financeiro e eu com a manutenção das atividades da casa e da nossa bebê que precisava de cuidados.
Aquela gerente de comunicação que realizava eventos dos mais variados com muitos artistas do Brasil e de fora estava ali absorta com o Lar. E hoje brinco que na ponta dos pés, após o soninho dela, saio para trabalhar na casa das clientes. Caso ela precise de algo, o marido, papai tão querido da Sofia, está ali pertinho dela. Mas ela costuma seguir com o sono até o outro dia.
O trabalho das vendas, feito com carinho, com sensibilidade. Um começo ou recomeço. Uma trajetória de gratidão por me dar essa oportunidade tão preciosa.
Não posso acabar esse texto sem explicar o bigode do título. Exige explicação. Pois bem, retirei do livro “Os quatro amores” do C. S. Lewis. Trazido para cá, toca um sino maternal. Que nossas afeições maternas não nos matem. Para além dos olhinhos dos nossos pequenos, temos amores pela arte, cultura, “a gente não quer só comida” e não quer dar só comida, outras danças também nos encantam.
É bom escrever, dançar, trabalhar, cantar, relacionar, uma xícara de café com pessoas tão queridas nos fazem tão bem. E que também os afetos pela nossa cria permaneçam. É o não se deixar achatar pela cruel escolha ditada pelo mercado de trabalho.
Dê leite ao seu filho, se é que me entende. Claro que não me refiro à amamentação por si só. É um hino à sua liberdade de poder viver com menos (recursos financeiros, se for o caso) para viver mais o tesouro da maternidade durante os primeiros dias de vida do seu filho. Não se deixar atropelar faz um bem tão profundo.
Construa a sua realidade. Responsabiliza-te pelo que construir e mãos à obra dando “Soli Deo gloria”.
Este é só um caminho dos muitos possíveis, mas que me fizeram um bem enorme. Pensando aqui em como será que foi com você. Também quero ler você. Compartilhar faz um bem enorme. Fique à vontade.
16 comentários em “Na ponta dos pés – Filha dormindo, mãe trabalhando”
Luíza Brescia, acompanhamos de longe suas lutas e prazeres com a maternidade. Você tem se saído muito bem! Sua garotinha é uma “espoletinha” muito inteligente, bonita e claramente, se vê, muito amada. Você fez a escolha certa e teve sabedoria. Cada mãe deve seguir seus instintos, consultar a Deus e fazer suas escolhas. Cada criança exige cuidados diferentes. O amor é o roteiro de toda mãe e pai. Seguindo-o, certamente acertará o destino. Deus a abençoe!
Cristina, muito obrigada pelo carinho das suas palavras. Mãe de 3, vovó de muitos e uma grande diretora. Que legal ler você. Uma honra para mim! Beijos!
Parabéns, Luiza! O seu texto me emocionou muito. Ser mãe é tudo isso e muito mais. Vamos descobrindo aos poucos. E você com tão pouco tempo já descobriu tudo isso. Eu também acho que você e o Davi estão acertando muito nas decisões. Que Deus os abençoe plenamente durante toda sua jornada de mamãe.
Amém! Muito obrigada pelo carinho! Palavras essenciais para nós fortalecer! Beijos!
Excelente!
☺️Obrigada, Pat! ❤️
Maravilhosa essa minha amiga! Que texto sensível e verdadeiro…
Puxa, Fê! Muito obrigada! Que carinho! Beijos!
Minha amiga, como me emocionei em ler o seu texto. Realmente o instinto materno fala mais algo! Fazemos planos qdo o nosso bebê ainda está no ventre! ” Ah, qdo completar seis meses, deixo na creche- escola e volto para minha rotina…”
Bem, aqueles olhinhos tão surpresos, faz com que a gente muda completamente! No nosso modo de pensar,no agir… maternidade, só nós, mulheres podemos ter esse privilégio! Ficar com os nossos pequeninos, não tem preço, nos seus primeiros anos de vida…ah, como aprendemos com esses pequeninos!!!
Lê, verdade! Muda tudo completamente e que bom que é assim! Obrigada, minha amiga! Beijos!
Maravilhoso seu texto Luiza. Só tenho que te agradecer por compartilhar conosco experiências que só a maternidade nos proporciona. Parabéns por sua dedicação como mãe. Que Deus abençoe sua família.
Muito Obrigada! Estamos juntas,Bruninha!
Excelente texto! Ser mãe tem sido a experiência mais intensa da minha vida!
Ahhh minha amiga! Me divirto com suas legendas, me emociono com seus textos. Que Deus continue lhe dando graça nesse caminho maravilhoso. ❤️
Vivi, suas palavras me dão força pra continuar. Obrigada, minha amiga!
Você disse tudo. Por aqui também! Super intenso! Obrigada pelo carinho! ❤️☺️