cinema brasileiro

O Reencontro de Chicó e João Grilo: Nostalgia e a Falta do Sertão Real

“Não sei, só sei que foi assim…” E foi assim que, depois de tantos anos, Chicó e João Grilo voltaram às nossas telas, reacendendo a chama de um sertão que já parecia distante. O anúncio de O Auto da Compadecida 2 trouxe a esperança de um novo mergulho na genialidade de Ariano Suassuna, mas também o receio: sem ele, será que o encanto resistiria?

Selton Mello, ator que admiro desde sempre, me fez sentir que Chicó nunca nos deixou. A interpretação é impecável, como se o tempo tivesse apenas dado uma volta e voltado ao mesmo ponto, onde a amizade desses dois malandros se refaz entre uma prosa e outra. Nostalgia pura. Mas algo me tirou do encanto…

O sertão, aquele sertão real, ficou preso entre paredes de estúdio e um céu que não era de verdade. Na primeira versão, o calor escaldante fazia parte da cena: o sol refletia no suor dos atores, a terra vermelha se confundia com a pele, e a poeira contava a história junto com os diálogos. Agora, o sertão se tornou um cenário. Bonito, sim, mas sem aquele peso de verdade que nos fazia sentir dentro da história.

E o roteiro? Bem… Suassuna fez falta. Houve momentos de vazio, como se faltasse aquele brilho da astúcia que permeava cada linha do primeiro filme. A escolha de um tom mais teatral, com um cenário tão artificial, reforçou essa sensação de que algo ficou para trás.

Gostei? Gostei. Como não gostar de rever Chicó e João Grilo? Como não sorrir ao ouvir de novo um “não sei, só sei que foi assim”? Mas, se o primeiro Auto da Compadecida nos apresentou um Brasil sertanejo vivo, pulsante, essa nova versão ficou mais contida, mais ensaiada. Ainda assim, a memória da obra original permanece imbatível, como um cordel bem contado, um riso entre lágrimas, uma saudade que nunca se apaga.

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