Estabelecer limites é uma maneira de cuidado, proteção e amor dos pais aos filhos.
Nas últimas semanas, viralizou no WhatsApp uma palestra da médica pediatra Filó, promovida pelo Colégio Santo Antônio – O áudio completo você acessa clicando aqui – Nela, Filó fala de suas preocupações baseadas na sua experiência clínica, convivendo com pais e crianças em seu consultório, e alerta para a necessidade dos limites para criança e a responsabilidade dos pais em dizer o que pode e o que não pode.
Neste texto, quero a aproveitar a chamada de Filó para dar continuidade ao diálogo sobre os assuntos – que estão pra lá de pertinentes! Quem sabe, enquanto conversamos, nos revisamos (como pais, filhos, educadores, pessoas no mundo), tendo em vista um melhor viver?
Para fortalecer sua visão sobre a importância dos limites na formação do ser humano, Filó cita uma frase que me foi bastante instigante: “O rio só existe porque ele tem margem”. Se assim não fosse, se o rio não tivesse margem, também não haveria rio. Com esta linguagem alusiva e poética, o rio me ajuda a pensar o ser humano, que se torna menos que humano quando vive à revelia dos limites que cada fase da vida apresenta, despercebendo os contornos da existência.
Quando bem utilizado, os limites está a favor do desenvolvimento humano. Por meio dele, a criança pode:
- aprender a discernir, com clareza, o que pode e o que não pode;
- ser protegida;
- desenvolver a capacidade de compreensão intelectual e de controle da impulsividade e da agressividade;
- ser capaz de ponderar sobre as possíveis consequências de seus atos;
- tornar-se capaz de reconhecer as regras de funcionamento do lugar onde vive (casa, cidade, estado, país) e agir de maneira adequada e colaborativa na vida comunitária;
- desenvolver a capacidade de lidar com a frustração (com os “nãos” da vida) de modo adaptativo e resiliente;
- ter forjada em si virtudes, como a paciência;
- formar o respeito às figuras de autoridade e aos demais semelhantes.
Sei que há incontáveis fatores que influenciam nossas percepções sobre esse assunto e que muitas pessoas não tiveram boas experiências com o uso de limites (talvez porque os seus pais desconsideravam a idade e maturidade de cada filho, deslegitimava os seus sentimentos, não estavam atentos ao contexto, confundiam rigidez com consistência, falavam de modo ambíguo e por aí vai). Algumas chegam a combater o uso de limites, porque estão preocupadas em não impor tudo à criança, para que a possibilidade de experimentar o mundo e de se descobrir não seja tolhida. Quando surgem questões dessa natureza, sempre me lembro de uma experiência pessoal, quando ainda era criança.
Quando minha irmã nasceu, nossa família se mudou para uma casa em construção. Meus pais tinham a ideia de transformar a área atrás da cozinha em uma grande cozinha com uma ampla área de serviços. Lembro-me que enquanto aquela área não foi fechada eu mal podia brincar naquele espaço. Ficava proibida de chegar na beirada sem estar sob supervisão. Finalmente, quando as paredes foram erguidas – e eu já não corria o risco de cair lá de cima – aquele espaço se transformou no ambiente em que eu mais gostava de brincar e explorar coisas novas.
Gosto de contar esse caso para ilustrar o meu ponto. Sem as paredes (os limites) não havia liberdade para brincar. Os limites bem claros não exerciam somente uma função restritiva, também me possibilitavam investir minha energia, brincar com segurança e explorar minha capacidade criativa. Sem os limites, a minha liberdade poderia me levar à morte (literalmente).
Por tantas razões, encorajo o bom uso dos limites, pois acredito que ele nos ajuda a viver. E mais: creio que ele coopera para que nos tornemos aquilo que somos chamados a ser: seres humanos.
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1 comentário em “Os limites para criança e a responsabilidade dos pais – Uma reflexão sobre a palestra da Dra. Filó”
Excelente e prazeroso texto, Dra. Kelley! Tema mto pertinente à sociedade e aos dias atuais.