A escola e a família na vida de uma criança

A escola é uma instituição histórica criada para levar educação formal ao maior número de pessoas. Sua função básica não é substituir a família, mas complementar a formação familiar com conhecimentos acadêmicos especializados necessários para que alunos sejam inseridos em determinado contexto cultural. Tais saberes, nem sempre podem ser fornecidos pela maioria das famílias.

Entretanto, a escola tornou-se, em muitos aspectos, um tipo de terceirização da tarefa familiar de educar, e isto não é um “privilégio” apenas das escolas públicas. Professores, além de se envolverem com o ensino das disciplinas formais, acabam tendo que substituir o papel da família em vários aspectos, ou acabam tendo que lidar com alunos moral e/ou socialmente deseducados. Grande parte do esforço docente é sabotado pela enorme energia despendida na tentativa de manter os alunos em condições de aprender alguma coisa. Há professores que vivem um verdadeiro inferno diário para ensinar, agora, de fato, nas escolas públicas esta sensação de danação psicológica é muito mais intensa.

Estudantes se abraçam na porta da escola em Suzano –
Foto: Maiara Barbosa

Muitas famílias migraram para os grandes centros em busca de trabalho e dentre eles um grande número formado por novos arranjos. Muitas mães solteiras ou mulheres e homens para além da primeira relação estável são arrimos financeiros. Há muitas crianças e adolescentes criadas pela chamada família estendida. Sem mencionar que dentre elas muitas vivem um ambiente insalubre de abuso, violência, descaso e total impotência em contribuir de forma significativa para a formação moral, afetiva, o que dirá intelectual de seus filhos. Esta é a situação de milhares, senão, milhões de famílias no contexto urbano brasileiro.

O Ministério Público de São Paulo desenvolveu uma pesquisa entre 2014 e 2015 que apontava que 2 em cada 3 jovens infratores não têm pai. Apesar de que seria necessário mais dados, qualquer pessoa que lida de maneira concreta com educação em contextos vulneráveis sabe como a figura paterna é ausente. E, como, a maioria das crianças, adolescentes e jovens aliciados ao crime acabam por encontrar na figura do “patrão” (termo que vem de pai) do tráfico aquela relação paternal que lhes falta.

Infelizmente, o evento em Suzano é fruto de uma dinâmica complexa entre famílias moral, afetiva e espiritualmente empobrecidas, ambiente escolar insalubre, gestores e professores trabalhando em condições insanas e falta de políticas para uma educação pública de qualidade. Tudo isso, cria um cenário explosivo. E, eventos desta natureza, servem para chamar a atenção para um problema sistêmico que envolve família, escola, poder público e sociedade civil.


Foto: Maurício Sumiya/Futura Press via AP

O desastre em Suzano me afetou, pois como educador, pai e brasileiro, tudo nesse evento me soou muito familiar. De fato, vivemos um ano complicado, dolorido, mas, devemos insistir que no atual cenário, deveríamos procurar forças para sermos resilientes. Pensarmos para além do governo em busca de soluções, ainda que pequenas, para que famílias sejam amparadas, suportadas, aconselhadas, e pensarmos em meios para que a educação melhore não apenas nos exames nacionais, mas também em seu ambiente formativo.

Desejo o melhor para meu país, e espero sinceramente, que nossas famílias, inclusive aquelas mais vulneráveis, sejam despertadas em uma grande coalização pela melhoria da educação e de nossas escolas.

Que Deus nos abençoe!

Por Igor Miguel: pai, pedagogo e pastor. Para visualizar o post original desse texto, CLIQUE AQUI.

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