A morte é uma realidade e falar sobre a morte com uma criança é importante para a sua compreensão de mundo.
Boa parte da minha infância eu passei numa cidade do interior de Minas. Lá, não havia um lugar específico, destinado apenas para realizar o velório, ele costumava acontecer na igreja ou na casa da própria pessoa falecida. Era muito comum os pais levarem as crianças, elas participavam dos rituais de morte. Acredite se quiser, eu brinquei várias vezes de “pique-altas” no cemitério! Dá para imaginar onde a gente ficava de “altas”, né?!
A morte fazia parte da vida das crianças. Elas viam os adultos prestando condolências, visitando enlutados. Elas estavam lá. O que foi surpreendente para mim é que mais tarde, quando saí do interior, me dei conta de que muitos dos meus colegas nunca tinham ido a um velório, muito menos no cemitério, durante toda a infância. Mesmo entre aqueles que tinham perdido pessoas próximas, como avós, havia pessoas que não participaram da cerimônia.
Enquanto no interior a morte era encarada como um fenômeno inevitável e o sofrimento era autorizado e socialmente legitimado, aqui, eu via a morte ser ocultada e as expressões de sofrimento suprimidas. Nos centros urbanos maiores, as formas de socialização tendem a envolver as crianças num jogo de silêncio e ocultamento. O adulto crê que não falar sobre a morte, distrair a criança, como se a morte não tivesse acontecido, são formas de protegê-la. O que ocorre é que a criança fica confusa e tem aumentada a sensação de incerteza, desamparo e medo.
Muitas vezes, é na infância que a pessoa tem a sua primeira experiência de perda significativa (pode até ser com a morte de um bichinho de estimação). É muito importante que a criança encontre alguém que fale com clareza e seja suporte para ajudá-la a compreender o que está acontecendo. Alguém que possa ouvir com atenção suas perguntas e acolhê-la com as várias emoções que as perdas suscitam. Poupar a criança, ou seja, trabalhar para impedir que a criança se dê conta do que ocorreu, não alivia a dor. É um falso apoio, que dificulta e torna ainda mais penoso o processo de luto.
As crianças não estão alheias à vida. Elas percebem as mudanças, observam os adultos, pegam “no ar” o que está acontecendo com a família e, além disso, são, de fato, parte da família. Por isso, não é indicado que a criança seja privada de informações e esclarecimentos quando uma figura significativa morreu. Devidamente acompanhadas por um adulto, elas podem participar de rituais como velório, enterro ou cremação, compartilhando sentimentos e o momento de dor e lamento.
A Kelley Jardim é psicóloga de família e sempre compartilha matérias importantes aqui no blog. Para ler mais textos dela, clique nos links abaixo:
- Orientação antecipatória para acontecimentos importantes na infância
- Tornando-nos pais – A casa que se transforma para a chegada de um bebê
- Os limites para criança e a responsabilidade dos pais – Uma reflexão sobre a palestra da Dra. Filó
- 2 fortes motivos que levam um casal ao divórcio
- A importância do brincar na infância
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