crítica de cinema

Adolescência: uma reflexão necessária sobre a geração conectada

O assunto da semana, principalmente entre mães de adolescentes, foi a minissérie Adolescência, da Netflix. O burburinho em grupos de discussão e redes sociais me deixou com expectativas altíssimas, mas o que mais me motivou a assistir foi o desafio técnico da obra: uma série inteira filmada em plano sequência. Como cineasta, esse detalhe me arrebatou de imediato. Como mãe de um adolescente, o tema me atravessou profundamente.

Sabendo dos gatilhos que a própria Netflix alertou, chamei meu marido para maratonarmos juntos. E que experiência!

O Desafio do Plano Sequência

Um plano sequência exige planejamento, ensaios exaustivos, entrosamento absoluto entre atores e equipe técnica. Cada cena da série me fez prender a respiração. Como conseguiram tamanha sincronia em tomadas que envolvem centenas de pessoas, transições entre ambientes internos e externos, movimentos de câmera complexos e uma narrativa tão fluida? A cada momento de tensão, eu pensava: “Preciso ver os bastidores dessa cena”.

E o roteiro? Um espetáculo à parte. Essa história poderia ter sido contada de tantas formas… Mas o formato escolhido potencializou a imersão e a carga emocional. Se não fosse em plano sequência, algumas cenas precisariam ser mais explicativas, e perderiam impacto. A linguagem visual se tornou uma extensão do drama.

Uma Atuação Memorável

O destaque absoluto é Owen Cooper, que interpreta Jamie Miller. Com apenas 15 anos e sem experiência prévia na atuação, ele superou 500 candidatos para o papel. A cada expressão, a cada silêncio, ele traduz com verdade os dilemas de um adolescente da era digital. Não à toa, recebeu elogios unânimes da crítica mundial.

Um Espelho da Nossa Sociedade

Mas o que torna essa série um fenômeno não é apenas a parte técnica.

O tema ressoa em todos: pais, avós, tios, professores e, claro, os próprios adolescentes. Vivemos em uma era de hiperconectividade e isolamento simultâneos. A série nos obriga a encarar perguntas difíceis:

  • Quantas famílias hoje não tiveram que estabelecer limites para o uso de telas?
  • Quantos pais já se sentiram culpados por, num dia exaustivo, permitir que os filhos passassem tempo demais em jogos e redes sociais?
  • Como o bullying evoluiu? Ainda imaginamos que ele se limita ao clichê do “valentão da escola”, mas e o preconceito enraizado disfarçado de piada?

Em certo momento, um professor desabafa: “Vocês acham que estão mudando o mundo, mas seguem reproduzindo as mesmas violências que criticam.” E essa fala ecoou em mim.

A geração hiperconectada está realmente combatendo preconceitos? Ou estamos apenas criando novas bolhas? Queremos acreditar que os mais jovens estão construindo uma sociedade mais respeitosa, mas será que respeito está sendo ensinado e praticado?

Sem respeito, os erros e até crimes passam a ser renomeados e relativizados. A série nos coloca de frente para essa reflexão incômoda.

Entre a Técnica e a Emoção

Como cineasta, eu aplaudo a obra por sua execução brilhante. Como mãe, eu me apego a Deus pedindo ainda mais graça para exercer essa missão tão desafiadora.

O cinema tem o poder de nos transformar, e Adolescência fez isso comigo. Se meus filhos aprenderem a viver o maior mandamento — amar ao próximo como a si mesmo —, sentirei que cumpri minha parte.

Que Deus nos abençoe nessa caminhada.

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