Crítica | Hebe: A Estrela do Brasil

Essa semana fui convidada para uma cabine de imprensa para assistir o filme biográfico da Hebe Camargo, importante artista e comunicadora brasileira que faleceu em setembro de 2012 aos 83 anos.

É impossível que eu escreva sobre esse filme sem que lhe diga que a todo momento fiquei diante da tela pensando: “se eu não soubesse quem foi a Hebe, o que eu sairia dizendo a respeito dela depois desse filme?”.

Se você, assim como eu, sentou às segundas feiras em frente a TV e assistiu o famoso programa de entrevistas da Hebe, que de maneira descontraída falava sobre diversos assuntos, se lembra que ainda ali era possível perceber sua espontaneidade, pensamentos a respeito da sociedade e política… Ela não ficava em cima do muro, seu “gracinha” era dito para quem ela de fato admirava.

Maurício Farias (diretor do filme), nos mostra além. No seu camarim ou em casa ela era alguém de personalidade forte. Suas fraquezas e alguns erros também foram relatados, o que me agrada, afinal, todo ser humano erra ou se engana um dia e quando falamos de uma biografia, essas lições que aprendemos com a vida devem ser destacadas.

Porém, ao meu ver, como o filme é intitulado Hebe: A Estrela do Brasil me fez esperar uma trajetória profissional mais detalhada. Por esse motivo criei a expectativa a respeito da montagem do filme: seria um filme linear? Como valorizar momentos de alguém que tanto fez e se reinventou na vida artística?

Não que a montagem do filme seja ruim, longe disso, diante do roteiro que lhe foi proposto penso que foi feito de uma maneira assertiva. Por isso, percebi depois que eu deveria ter criado uma expectativa a respeito do roteiro e não da sua montagem.

A Hebe que começou no rádio, que era romântica no canto, que se reinventou como apresentadora foi iniciada de outra maneira. Já a conhecemos no final do seu programa na TV Bandeirantes. Por querer incluir na sua programação um ator drag, a censura pressionava Walter Clark, diretor-geral da Rede Bandeirantes na época, a impor mais limites a apresentadora.

Esteticamente a tensão causada nessa cena inicial do filme, devido a essa situação, é resolvida de maneira brilhante: o silêncio de Hebe no camarim, a pressão do diretor batendo na porta da apresentadora a fim de negociar para que “ficasse bom para todos” e os chefes da censura irredutíveis em manter suas imposições… Uma guerra de poderes é instaurada, mas tanto o diretor, quanto a censura sabiam que controlar uma Estrela não é nada fácil, Hebe nunca esteve disposta a negociar aquilo que ela acreditava.

Andréa Beltrão, com sensibilidade, talento e entrega interpreta Hebe com perfeição. Junto da sua atuação, é necessário destacar o trabalho da direção de arte, que oferece a atriz uma estrutura capaz de lhe transpor para a realidade vivida pela apresentadora. Seu figurino, os cenários, certamente colaboraram para que Beltrão desse o seu melhor, não caricata, mas no ponto certo, mesmo diante de tantos brilhos e paetês, como a apresentadora amava.

Voltando a falar sobre as fraquezas, Hebe vivia um relacionamento abusivo, o ciúmes doentio do marido somado ao alcoolismo o faziam um homem agressivo. Ela que desejava um lar harmônico para todos, não tinha um para si. Suas tentativas de impor limites foram abaladas muitas vezes pela paixão ao marido, o que ocasionava também um sofrimento ao seu filho, já um jovem, mas aparentemente sem muita autoestima, provavelmente decorrente da falta de auto-conhecimento.

O apoio político de Hebe a Paulo Maluf e Celso Pitta foi apenas uma pincelada no filme. Me pareceu pouco diante de alguém que nessa obra fazia questão de deixar clara sua opinião. Assim também como a abordagem sobre a AIDS num enredo onde a comunidade LGBTQI é bastante valorizada e por meio dela tinha voz.

No SBT, suas vontades são realizadas, tanto por Silvio Santos, como pelos profissionais envolvidos no seu programa. Ali a Hebe mais recente da nossa lembrança mostra como chegou na emissora e fez dela seu lugar. O sofá, os convidados, sua fala para a câmera, sua risada, admiração pelo Roberto Carlos, as rosas… Todas elas são mostradas. A apresentadora mostra ter ganhado a gerra de braços, mas também amadurecido sobre a necessidade de usar seu espaço e liberdade para levar uma informação de qualidade e não apenas entretenimento para seus espectadores.

Pra finalizar, destaco que esperei uma biografia mais completa, menos livre, por esse motivo, penso que o nome do filme talvez não foi feliz na escolha. Como alguém que da atenção ao cinema, sempre recomendo assistir uma obra já que acredito que sempre há algo a se aprender com ela, porém, em Hebe: A Estrela do Brasil eu gostaria de ter saído da sala empolgada e muda como aconteceu quando assisti Bohemian Rhapsody, que narra a história de Freddie Mercury e outros filmes biográficos, o mesmo não aconteceu, mas continuo aguardando com espectativa novas cinebiografias nacionais.

Espero que ao assistir você volte aqui e me conte como foi a experiência que teve com mais essa cinebiografia nacional.

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Nathália Machado.

o Conta Pra Elas é como um diário pra que compartilhe com você minhas descobertas, conquistas e dicas.

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