Vamos conversar sobre violência obstétrica no Brasil

A violência obstétrica se vence com informação… É preciso falar sobre ela.

Normalmente a violência obstétrica é descoberta depois de um tempo que o bebê já nasceu, em alguns casos até meses ou anos do pós parto. Infelizmente no Brasil temos muitos casos assim, eu sou apenas uma entre milhares de vítimas brasileiras.

No início desse ano eu recebi uma ligação do Ministério da Saúde para responder um questionário para avaliar o atendimento que tive no SUS onde meu segundo filho nasceu, eu conto sobre o nascimento dele aqui. Para minha surpresa tinham perguntas do tipo: “durante o trabalho de parto ou parto alguém lhe deu tapas, mordeu ou gritou com você?”. Felizmente minha resposta foi não.

No primeiro parto eu teria dito sim sobre gritos, comentários maldosos e procedimentos proibidos durante a cesárea e sei o quanto foi doloroso pra mim tomar ciência de tudo que aconteceu comigo em 2012, quando fui mãe pela primeira vez e por causa de uma série de erros médicos, que são parte dessa violência fui também uma mãe de UTI por 12 dias. Meu filho saiu bem, sem sequela, eu saí traumatizada e foi falando sobre o assunto e buscando conhecimento que hoje consigo falar abertamente sobre isso.

violência obstétrica no Brasil
Taws13/Thinkstock/Getty Images

Após lançar um anúncio no meu Facebook e em grupos maternos que participo convidei mulheres que sofreram violência obstétrica para dar seus depoimentos do que lhes aconteceram, tive muito retorno, infelizmente é impossível descrever o relato mais triste. Como foram muitos, decidi lançar uma série sobre: violência obstétrica no Brasil, ao invés de um único texto. Este então, é o primeiro sobre o assunto.

Márcia Machado, moradora de Belo Horizonte, relatou que a ginecologista obstetra que lhe acompanhava durante todo o pré-natal sempre a questionava nas consultas sobre quem faria seu parto, depois de muita pressão por parte da médica, a paciente lhe comunicou que no momento do parto ela procuraria um plantonista, pois não havia condições de pagar o valor que a obstetra em questão cobrava para o procedimento, de 6 a 8 mil reais, para surpresa de Márcia, a obstetra se negou a continuar o acompanhamento do seu pré-natal lhe dizendo ao final da consulta que procurasse outro profissional, pois priorizava o atendimento das gestantes que realizariam o parto com a mesma.

Violência Obstétrica no Brasil
carlaraiter.com/lem4

Fernanda Vilela, moradora de Cabo Frio – RJ, relatou da dificuldade que teve para engravidar, até que após uma FIV, em 2014, a gravidez aconteceu e se manteve tranquila, a princípio iniciou o tratamento pelo SUS e após indicação de amigas, com 4 meses de gestação, seguiu o pré-natal com um ginecologista particular que foi muito atencioso até as 32 semanas. Com 33 semanas e 5 dias, após um exame de rotina, o doutor aferiu sua pressão que estava um pouco alterada (normalmente era 9/6 e nesse dia estava 13/9), por causa dessa alteração um ultrassom foi pedido e enviado para o obstetra via internet, o mesmo entrou em contato com a paciente a noite solicitando sua internação no dia seguinte para uma cesárea de emergência, pois o bebê estava com pouca oxigenação e baixo líquido.

A notícia abalou Fernanda que tinha a mãe e o marido em casa para lhe amparar, meia noite a gestante não se sentiu bem e foi imediatamente para a maternidade pública que era mais próxima, onde sua pressão foi aferida e estava 16/10. A partir desse momento uma série de situações deixaram Fernanda e sua família desamparada.

Seu médico estava em outra cidade e não voltou como estava combinado, a médica que lhe faria uma segunda ultrassonografia estava de licença maternidade e não tinha ninguém para substituí-la. Mais de 24 horas se passaram para que chegasse a autorização para que esse exame fosse feito particular. Após muitos contatos com o obstetra via Whatsapp, a gestante aguardou por 6 horas seu médico perdendo líquido (sem saber, pois ninguém a avaliava), o anestesista passou mal durante o plantão, por esse motivo, Fernanda e outras duas gestantes precisavam aguardar que esse anestesista melhorasse. As 20 horas a cesariana foi feita por um plantonista, já que o médico da paciente nem se deu ao trabalho de responder as mensagens, o bebê nasceu com 34 semanas e 2 dias, sem líquido nenhum, porém, saudável.

Violência Obstétrica no Brasil
carlaraiter.com/lem4

Por precaução, o filho de Fernanda ficou no oxigênio na UTI por 12 horas para observação. Fernanda Vilela, ainda me relatou que durante sua cirurgia, os profissionais que estavam presentes na cesariana, conversavam sobre a macarronada que comeriam em seguida e por isso não poderiam demorar, pois a cozinha fechava as 21 horas. “Meus pontos foram costurados como se costura um saco de batatas, sabe?! Ficou uma cicatriz horrível que só plástica pra concertar”, relatou, FernandaO plantonista que realizou a cirurgia relatou a gestante que o bebê nasceu sequinho, sem líquido nenhum e provavelmente esse seria seu único filho, pois durante a cesariana foi possível perceber uma endometriose muito severa.

Infelizmente, violência obstétrica é algo recorrente no Brasil e sem informação é impossível que ocorram mudanças. Precisamos instruir as famílias, principalmente as mulheres sobre seus direitos e deveres e lutar para que o sistema obstétrico seja cada vez mais humano.

Essa série continua…

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4 comentários em “Vamos conversar sobre violência obstétrica no Brasil”

  1. Telma Maciel

    Meu Deus, como é triste…
    Como eu “queria”, tive um parto normal 12 anos atrás… a gente se ilude que parto normal é isso aí mesmo, é assim desse jeito… estou grávida de novo e digo que, se Deus me permitir, não quero um parto “normal”… prefiro uma cesárea!
    Quero um lindo parto natural, respeitando o tempo do meu bebê…
    Mas na outra vez eu fui vítima de algumas violências obstétricas, sim… Mas fico feliz porque hoje já está muito mais fácil buscar informações, muito mais fácil saber os meus direitos e o que é violência!
    Mas tenho medo… de qquer forma eu tenho medo pq, o acompanhamento pré-Natal será particular, mas o parto será com plantonista por questões financeiras mesmo…

    1. Oi Telma, obrigada pelo seu comentário. Realmente é preciso se informar muito para ter um parto respeitoso. Com informação e uma boa equipe você terá uma linda hora, eu já escrevi como eu fiz no nascimento do meu segundo filho, onde fiz pré-natal particular e tive 2 planos para o parto: ia para a maternidade em que meu médico estivesse de plantão (uma particular e a outra pública) e o plano B era ligar em ambas as maternidades e perguntar qual era a equipe no plantão naquele momento e eu acabei fazendo o plano B e por causa dos profissionais fui para a maternidade do SUS e fui muito feliz. Se quiser saber mais detalhes é só ler esse post aqui: https://contapraelas.com.br/relato-de-parto-natural-nascimento-do-henrique/

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