JT Mollner entrega em Desconhecidos um suspense psicológico denso e perturbador, dividido em seis capítulos. A obra se destaca por sua atmosfera sufocante, conduzida com maestria por uma trilha sonora que intensifica cada momento de tensão.
Um Filme de Sensações
Desde os primeiros minutos, o espectador é imerso em um turbilhão de emoções. Dor, agonia, ansiedade e medo são transmitidos de forma visceral, e a performance da protagonista amplifica essa experiência sensorial. A câmera não apenas acompanha a ação, mas mergulha o público no estado emocional dos personagens, tornando cada cena uma vivência angustiante.
A Sociedade em Perspectiva
A narrativa explora temas contemporâneos de maneira crua e impactante. O sexo, seja casual, violento ou inexistente devido à vida virtual, reflete a alienação e os extremos das relações humanas. A droga cetamina surge como um elemento que catalisa a degradação dos personagens, levando-os a um estado onde os limites entre realidade e delírio se confundem.
Violência e Objetificação
O filme questiona a posse e a objetificação, invertendo papéis de poder. A protagonista, em um ato de domínio, crava suas iniciais na pele de sua vítima, mas até que ponto a troca de papéis altera a essência do problema? A questão da igualdade de gênero surge não como uma simples inversão de papéis, mas como um chamado ao respeito mútuo.




O Jogo Vira
A virada da trama acontece quando o homem, até então submisso, percebe a sua capacidade de reagir. Mas o que o levou a isso? A influência da droga ou uma coragem latente finalmente despertada? A dúvida paira sobre o espectador, reforçando a ambiguidade moral que permeia todo o filme.
Diálogos que Marcam
A obra traz diálogos memoráveis que adicionam camadas filosóficas ao enredo. Em um dos momentos mais impactantes, a protagonista, algemada dentro de um freezer, reflete sobre a inevitabilidade da morte:
“Mesmo sabendo que vamos ficar numa jaula, a gente não quer morrer… Eu não quero morrer. Ninguém quer morrer, isso sempre me impressiona.”
Essa reflexão existencialista ressoa ao longo do filme, tornando a violência ainda mais cruel e realista.
O Amor e a Morte
Em um momento de delírio, um dos personagens descreve o amor de maneira primitiva e instantânea:
“O amor não precisa ser algo que evolui. O tipo mais puro, mais primitivo pode atingir você como uma onda. Em um instante… Eu senti isso por você enquanto você me estrangulava.”
A dualidade entre amor e violência atinge seu ápice, questionando se sentimentos tão intensos podem coexistir.
A Última Reviravolta
O desfecho traz uma das cenas mais simbólicas do filme. A protagonista, diante do espelho, encara sua própria monstruosidade. Ao afirmar para a polícia:
“Às vezes eu não vejo humanos, eu vejo demônios.”
ela sela seu destino. Sua morte não traz alívio imediato ao espectador, pois a incerteza sobre um novo desdobramento paira no ar até que o letreiro final apareça.
Desconhecidos é um thriller psicológico que transcende a narrativa convencional, propondo uma experiência intensa e perturbadora. JT Mollner constrói um universo onde a moralidade é fluida e a violência se torna uma linguagem própria. Um filme que não apenas se assiste, mas se sente — no corpo e na mente.