Quantos Brasis cabem em Milton Bituca Nascimento?
O filme é sobre Milton, mas também sobre o negro, o órfão, o adotado, o mineiro, o músico, o sonho, a censura, a amizade, o preconceito. É sobre pertencimento.
A infância sem a mãe é narrada com uma sensibilidade que emociona. O próprio Bituca complementa suas memórias em depoimentos dados ao longo do tempo, costurados com uma montagem primorosa. Palmas para a edição, que constrói uma narrativa visceral, cheia de pausas e respiros, como a própria música de Milton.
Com quase 50 minutos de filme, finalmente ouvimos sua voz. “Os sonhos não envelhecem” ecoa em Milão. Até ali, suas canções vinham em trilhas, mas sem serem cantadas por ele. E quando, enfim, ouvimos, o peito aperta e solta um “E lá se vai…” de arrebatamento. A plateia italiana se levanta, vibra. Eu, assistindo, vibro e penso: “graças a Deus sou brasileira, e mais ainda, mineira”. Porque entendemos, talvez mais do que eles, o que é ouvir Milton.
O que ele canta? Samba, bossa, jazz, MPB?
Não. Milton canta Milton. Sua música é gênero próprio, sem rótulo possível.
Seu filme é um documentário? Um docudrama?
Não. Mais que isso. É um poema.

Música, poesia, luz, cores, imagens, som, ruídos, minérios, montanhas…
Tudo ali é Bituca.
“O dom perfeito e tudo que é bom vem do Pai das Luzes.” – Tiago 1:17
“Como pode uma pessoa parecer duas?” – Wagner Tiso
“Se sabemos algo sobre o Brasil, é que precisa admitir seu racismo.”